Eliade exemplifica com a resposta dada pelos arunta, povos nativos
da Austrália, a respeito da maneira pela qual celebravam as cerimônias: “Porque
os ancestrais assim o prescreveram”. Em seus rituais, porém, os arunta não se
limitavam a representar ou imitar a vida, os feitos e aventuras dos ancestrais:
tudo se passava como se os antepassados aparecessem de fato nas cerimônias.
O tempo sagrado é, portanto, reversível, ou seja, a festa
religiosa não é simples comemoração, mas a ocasião pela qual o evento sagrado,
que teve lugar no passado mítico, acontece novamente. Caso contrário, a semente
não brotará da terra, a mulher não será fecundada, a árvore não dará frutos, o
dia não sucederá à noite. Sem os ritos, é como se os fatos naturais descritos
não pudessem se concretizar.
Exemplos
de Rituais:
A maneira mágica pela qual os povos tribais agem sobre o mundo
pode ser exemplificada pelos inúmeros ritos de passagem: do nascimento, da
infância para a idade adulta, do casamento, da morte. Assim diz Mircea Eliade:
... quando
acaba de nascer, a criança dó dispõe de uma existência física, não é ainda
reconhecida pela família nem recebida pela comunidade. São os ritos que se
efetuam imediatamente após o parto que conferem ao recém-nascido o estatuto de
‘vivo’ propriamente dito; é somente graças a estes ritos que ele fica integrado
na comunidade dos vivos. [...] para certos povos, [...] a morte de uma pessoa
só é reconhecida como válida depois da realização das cerimônias funerárias, ou
quando a alma do defunto foi ritualmente conduzida à sua nova morada, no outro
mundo, e lá embaixo, foi aceito pela comunidade dos mortos.
Ainda hoje, a maioria das religiões contemporâneas mantém os ritos
próprios de sua crença: cultura, cerimônias, oferendas, preces, templos, festas
e objetos religiosos.
Transgressão
do tabu:
No ambiente da tribo, o equilíbrio pessoa depende da
preponderância do coletivo, o que facilita a adaptação do indivíduo à tradição.
Ora, no universo em que predomina a consciência coletiva, a desobediência
ultrapassa quem violou a proibição, podendo atingir a família, os amigos e, às
vezes, toda a tribo.
Quando nas tribos a proibição é transgredida, são feitos ritos de purificação, como abster-se de
alimentos, retirar-se para local isolado, submeter-se a cerimônias de ablução,
em que se lava o corpo ou parte dele. Outros procedimentos são os rituais do
“bode expiatório”: após a transgressão ter provocado doença em um individuo ou
mal ter atingido toda a tribo, o sacrifício de animais ou de pessoas é um
processo de “expiação”, ou seja, de purificação.
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