quarta-feira, 13 de junho de 2012

Os Rituais


Segundo Mircea Eliade, historiador romeno estudioso das religiões, uma das características do mito é fixar os modelos exemplares de todos os ritos e de todas as atividades humanas significativas. Desse modo, os gestos dos deuses são imitados nos rituais. Essa é a justificativa dada pelos teólogos e ritualistas hindus: “Devemos fazer o que os deuses fizeram no princípio”; “Assim fizeram os deuses, assim fazem os homens”.
Eliade exemplifica com a resposta dada pelos arunta, povos nativos da Austrália, a respeito da maneira pela qual celebravam as cerimônias: “Porque os ancestrais assim o prescreveram”. Em seus rituais, porém, os arunta não se limitavam a representar ou imitar a vida, os feitos e aventuras dos ancestrais: tudo se passava como se os antepassados aparecessem de fato nas cerimônias.
O tempo sagrado é, portanto, reversível, ou seja, a festa religiosa não é simples comemoração, mas a ocasião pela qual o evento sagrado, que teve lugar no passado mítico, acontece novamente. Caso contrário, a semente não brotará da terra, a mulher não será fecundada, a árvore não dará frutos, o dia não sucederá à noite. Sem os ritos, é como se os fatos naturais descritos não pudessem se concretizar.
Exemplos de Rituais:
A maneira mágica pela qual os povos tribais agem sobre o mundo pode ser exemplificada pelos inúmeros ritos de passagem: do nascimento, da infância para a idade adulta, do casamento, da morte. Assim diz Mircea Eliade:
... quando acaba de nascer, a criança dó dispõe de uma existência física, não é ainda reconhecida pela família nem recebida pela comunidade. São os ritos que se efetuam imediatamente após o parto que conferem ao recém-nascido o estatuto de ‘vivo’ propriamente dito; é somente graças a estes ritos que ele fica integrado na comunidade dos vivos. [...] para certos povos, [...] a morte de uma pessoa só é reconhecida como válida depois da realização das cerimônias funerárias, ou quando a alma do defunto foi ritualmente conduzida à sua nova morada, no outro mundo, e lá embaixo, foi aceito pela comunidade dos mortos.
Ainda hoje, a maioria das religiões contemporâneas mantém os ritos próprios de sua crença: cultura, cerimônias, oferendas, preces, templos, festas e objetos religiosos.
Transgressão do tabu:
No ambiente da tribo, o equilíbrio pessoa depende da preponderância do coletivo, o que facilita a adaptação do indivíduo à tradição. Ora, no universo em que predomina a consciência coletiva, a desobediência ultrapassa quem violou a proibição, podendo atingir a família, os amigos e, às vezes, toda a tribo.
È o caso do tabu, termo que significa proibição, interdito, e que entre os povos tribais assume caráter sagrado. O mais primitivo tabu é o do incesto, mas há inúmeros outros, como o impedimento de tocar em algum objeto, animal ou em alguém. Por exemplo: em algumas tribos indígenas as mulheres menstruadas não devem tocar nos utensílios masculinos porque, contaminados, provocariam males e desgraças: a vaca é ainda hoje um animal sagrado na Índia e não dever ser molestada.
Quando nas tribos a proibição é transgredida, são feitos ritos de purificação, como abster-se de alimentos, retirar-se para local isolado, submeter-se a cerimônias de ablução, em que se lava o corpo ou parte dele. Outros procedimentos são os rituais do “bode expiatório”: após a transgressão ter provocado doença em um individuo ou mal ter atingido toda a tribo, o sacrifício de animais ou de pessoas é um processo de “expiação”, ou seja, de purificação.

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