A descoberta da Justificação.
“Quando um enunciado é feito, duas questões
importantes podem ser imediatamente colocadas: De que maneira chegou a ser
concebido? Que razões existem para aceita-la como verdadeiro? Trata-se de duas questões
diferentes. Seria um grave erro confundi-las, e um erro pelo menos tão serio
quanto esse é confundir as respostas. A primeira pergunta relaciona-se com a
descoberta; as circunstâncias lembradas por ela formam o contexto da
descoberta. A segunda relaciona-se com a justificação; assuntos que aqui se
tornam relevantes cabem no contexto da justificação.
Sherlock Holmes é um bom exemplo de pessoa com
soberbos poderes de raciocínio. Sua habilidade ao inferir e chegar a conclusões
é notável. Não obstante, a sua habilidade não depende da utilização de um
conjunto de regras que norteiam o seu pensamento. Holmes é muito capaz de fazer
inferências do que seus métodos ao amigo, e Watson é um homem inteligente.
Infelizmente, contudo, não há regras que Holmes possa transmitir a Watson
capacitando-o a realizar os mesmos feitos do detetive. As habilidades de Holmes
defluem de fatores como a sua aguda curiosidade, a sua grande inteligência, a
sua fértil imaginação, seus poderes de percepção a grande massa de informações
acumuladas e a sua extrema sagacidade. Nenhum conjunto de regras pode
substituir essas capacidades.
Se existissem regras para inferir, elas seriam
regras para descobrir. Na realidade, o pensamento efetivo exige um constante
jogo de imaginação e de pensamento. Prender-se a regras rígidas ou a métodos
bem delineados equivale a bloquear o pensamento. As ideias mais frutíferas são,
com frequência, justamente aquelas que as regras seriam incapazes de sugerir. É
claro que as pessoas podem melhorar as suas capacidades de raciocínio pela
educação, através da prática, mediante um treinamento intensivo; isso tudo,
porém, está longe de ser equivalente à adoção de um conjunto de regras de
pensamento. Seja como for, ao discutirmos as específicas regras da lógica, se fossem
aceitas como orientadoras dos modos de pensar transformar-se-iam numa
verdadeira camisa de força.
O que acabamos de dizer pode causar certo
desapontamento. Frisamos de modo enfático, o lado negativo, esclarecendo aquilo
que a lógica não pode fazer. Mas, então, para que serve a Lógica? A Lógica
oferece-nos métodos de crítica para avaliação coerente das inferências. É nesse
sentido, talvez, que a lógica está qualificada para dizer-nos de que modo
deveríamos pensar. Complementada uma inferência, é possível transformá-la em
argumento e correto ou não. A Lógica não nos ensina como inferir: indica-nos,
porém, que inferências podemos aceitar. Procede ilogicamente a pessoa que
aceita inferências incorretas.
Para poder apreciar o valor dos métodos
lógicos, é preciso ter esperanças realistas quanto ao seu uso. Quem espera que
um martelo possa efetuar o trabalho de uma chave de fenda está fadado a sofrer
grandes desilusões; quem sabe servir-se de um martelo conhece sua utilidade. A
lógica interessa-se pela justificação, não pela descoberta. A lógica fornece
métodos para a análise do discurso, e essa análise é indispensável para
exprimir de modo inteligível o pensamento e para a boa compreensão daquilo que
se comunica e se aprende”.