Para
melhor sintetizar a teoria do conhecimento de Platão, recorremos ao livro VII
de A República, em que é relatada a famosa “alegoria da caverna”: pessoas estão
acorrentadas desde a infância em uma caverna, de tal modo que enxergam apenas a
parede ao fundo, na qual são projetadas sombras, que eles pensam ser a
realidade. Trata-se, entretanto, da sombra de marionetes, empunhadas por
pessoas atrás do muro, que também esconde uma fogueira. Se um dos indivíduos
conseguisse se soltar das correntes para contemplar à luz do dia os verdadeiros
objetos, ao regressar à caverna seus antigos companheiros o tomariam por louco
e não acreditariam em suas palavras.
A
alegoria da caverna representa as etapas da educação de um filósofo, ao sair do
mundo das sombras (das aparências) para alcançar o conhecimento verdadeiro.
Após essa experiência, ele deve voltar à caverna para orientar os demais e
assumir o governo da cidade. Por isso análise de alegoria pode ser feita pelo
menos de dois pontos de vista:
·
O
político: com o retorno do filósofo-político que conhece a arte de governar;
·
E
o epistemológico: quando o filósofo volta para despertar nos outros o
conhecimento verdadeiro.
Platão
distingue dois tipos de conhecimento: o sensível e o inteligível, que se se
subdividem em outros graus.
Observando
a ilustração da caverna, identificamos quatro formas da realidade:
·
As
sombras: a aparência sensível das coisas.
·
As
marionetes: a representação de animais, plantas etc., ou seja, das próprias
coisas sensíveis;
·
O
exterior da caverna: a realidade das ideias;
·
O
sol: a suprema ideia do bem.
O
muro representa a separação de dois tipos de conhecimento: o sensível (que
corresponde às duas primeiras formas de realidade) e o inteligível (às duas
últimas).
A
alegoria da caverna é a metáfora que serve de base para Platão expor a
dialética dos graus do conhecimento. Sais das sombras para a visão do Sol
representa a passagem dos graus inferiores do conhecimento aos superiores: na
teoria das ideias, Platão distingue o mundo sensível, o dos fenômenos, do mundo
inteligível, o das ideias.
O
mundo sensível, percebido pelos sentidos, é o local da multiplicidade, do
movimento; é ilusório, pura sombra do verdadeiro do mundo. Por exemplo, mesmo
que existam inúmeras abelhas dos mais variados tipos, a ideia de abelha deve
ser uma, imutável, a verdadeira realidade.
O
mundo inteligível é alcançado pela dialética ascendente, que fará a alma
elevar-se das coisas múltiplas e mutáveis às ideias unas e imutáveis. As ideias
gerais são hierarquizadas, e no topo delas está a ideias do Bem, a mais alta em
perfeição e a mais geral de todas – na alegoria, corresponde à metáfora do Sol.
Os seres em geral não existem senão enquanto participam do Bem. E o Bem supremo
é também a Suprema Beleza: o Deus de Platão.
Percebemos
então que, acima do ilusório mundo sensível, há as ideias gerais, as essências
imutáveis, que atingimos pela contemplação e pela depuração dos enganos dos
sentidos. Como as ideias são a única verdade, o mundo dos fenômenos só existe
na medida em que participa do mundo das ideias, do qual é apenas sombra ou
cópia. Trata-se da teoria da participação, mais tarde duramente criticada por
Aristóteles.
Se
lembrarmos o que foi dito a respeito dos pré-socráticos, podemos constatar que
Platão procura superar a oposição entre o pensamento de Heráclito, que afirma a
mutabilidade essencial do ser, e o de Parmênides, para quem o ser é imóvel.
Platão resolve o problema: o mundo das ideias se refere ao ser parmenídeo, e o
mundo dos fenômenos ao devir heraclitiano.
Como
é possível ultrapassar o mundo das aparências ilusórias? Platão supõe que o
puro espírito já teria contemplado o mundo das ideias, mas todo esquece quando
se degrada ao se tornar prisioneiro do corpo, considerado o “túmulo da alma”.
Pela teoria da reminiscência, Platão explica como os sentidos são apenas
ocasião para despertar na alma as lembranças adormecidas. Em outras palavras,
conhecer é lembrar. Assim explica Platão no diálogo Mênon:
A alma é pois,
imortal; renasceu repetidas vezes na existência e contemplou todas as coisas
existentes tanto na Terra como no Hades e por isso não há nada que ela não
conheça! Não é de espantar que ela seja capaz de evocar à memória a lembrança
de objetos que viu anteriormente, e que se relacionam tanto com a virtude como
com as outras coisas existentes. Toda a natureza, com efeito, é uma só, é um
todo orgânico, e o espírito já viu todas as coisas; logo nada impede que ao nos
lembrarmos de uma coisa – o que nós, homens, chamamos de “saber” – todas as
outras coisas acorram imediata e maquinalmente à nossa consciência. [...] pois
sempre, toda investigação e ciência são apenas simples recordação.
A
fala transcrita no texto é de Sócrates, que conversa com Mênon. Para ilustrar a
teoria da reminiscência, chama um escravo e lhe pede que examine umas figuras
sensíveis e , por meio de perguntas, o estimula a “lembra-se” das ideias e a
descobrir uma verdade geométrica.
Foi muito útil, obrigada !
ResponderExcluirÓtimo texto.
Obrigada ajudou muito
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